Sexta à tardinha, hora de refrescar as dracenas, os gerânios e as suculentas. Exito diante do regador cheio de água: chuvisco ou não chuvisco? Uma trilha de formigas atravessa a floreira. Vestem marrom. Cintura fina – elegante! Bumbum avantajado – sexy! Carregam retalhos de folhas verdes, recortadas em tamanhos diversos, que formam imagens das fases da lua. Há também o molde de um ursinho, um sorvete e um navio. Evidente: são operárias. Uma delas, corajosa ou exibicionista, tenta equilibrar uma folha inteira. Tomba de um lado, tomba de outro, mas não desiste. Pelo formato e serrilhado na borda, suponho que a folha seja de roseira,
Hum! As formigas vem do andar de cima, costeando a parede. A vizinha da testa franzida só planta arruda, comigo-ninguém-pode e – rosas! Ela não vai gostar nada de nada de ver suas roseiras depenadas, ou melhor, desfolhadas, estorricadas. E nunquinha que vai se sensibilizar com o fato de essas formigas serem obreiras – estéreis! - que levam alimento ao berçário do formigueiro. E mais: que ajudam a arejar o solo; que são exemplo de sociedade cooperativa; que são personagens de fábulas e histórias infantis; que... Sei não, mas é uma questão de horas para elas serem envenenadas. Ou queimadas com água quente. Me dá uma tristeza! Por que essa vizinha, em vez de rosas, não planta cravos, que são repulsivos às formigas?
A trilha fica congestionada. Formigas sustentam as fases verdes da lua; algumas só ficam no vai e vem, esbarrando nas outras. Até aqui há operários que só atrapalham? Ou terão uma função que desconheço? Os daqui e os de lá? Uma formiga se separa do grupo. Depois de dez centímetros de andança, encontra outra, que vem da direção contrária e parece ser da mesma espécie. Mas não tenho certeza. Tocam-se nas antenas articuladas. Blá, blá, blá! De repente, cada uma retorna pelo caminho de onde veio.
Fico angustiada, com uma formiga atrás da orelha.
Que química terão trocado? Que segredo? Que fofoca?
Ah, queria tanto falar formiguês!
Como sempre, impecável... Ou melhor: cheia de pecados (porque as santas não chegam a lugar nenhum!). Adorei!
ResponderExcluirBeijos.
Comentando Naju!
ResponderExcluirPecadoras! As santas, e outras nem tanto, foram queimadas na fogueira. Formigas, que não são nem uma coisa nem outra, continuam sendo queimadas com água quente. Na dúvida, melhor se divetir sendo "pecável".Eu tento!
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