segunda-feira, 9 de maio de 2011

De uma certa janela - Marilia Galvão

Afasto as cortinas e olho para a rua. É de manhã cedo. Faz frio. Vejo as pessoas apressadas indo ao trabalho. Algumas esperam o ônibus, outras somem na entrada do metrô.
Da janela do meu quarto no hotel, quatrocentos e quatro, no quarto andar, me encanto com as calçadas molhadas pela chuva da madrugada. Elas refletem as cores dos luminosos das lojas e cafés. Isso porque o dia ainda não clareou de todo.
Por ser inverno, os plátanos da avenida estão sem as folhas. Posso, por entre seus galhos, passear meus olhos em todas as direções.
Baixo meu olhar, vejo a banca de jornais na calçada, o toldo do Indiana Club, o café da esquina e a escada de acesso ao metrô, por onde tenho entrado e saído nesses dias.
Percebo que a floricultura da outra esquina já abriu. Um espetáculo de perfume e cor no cinza do dia. Aliás, agora tudo está aberto, funcionando. Ah! Até aquela loja de doces, chocolates, tortas, licores, vinhos e champagnes. Que delícia!
Agora o dia está claro. Ainda cinza, mas claro. Mais pessoas vão e vêm. Continuo apenas parada em frente à janela, meu olhar continua vagando.
Do outro lado da rua, a loja Darty destaca-se no centro comercial. Bem na minha frente há um prédio enorme, revestido de granito. Até onde a vista alcança há outros prédios com lojas comerciais no térreo. Farmácia, papelaria, café, restaurante, loja de móveis vintage. E, oh!, uma loja de perfumes no subsolo que dá de brinde, conforme o valor da compra – écharpes de seda. Ainda hoje passo lá.
Presto atenção em uma cena que ocorre em meu campo de visão. Uma jovem, cabelos castanhos compridos, mochila nas costas, pega uma das bicicletas disponíveis no estacionamento próprio e pedala até a sinaleira. Seus cabelos esvoaçam ao vento cortante. Quanto ela vai agüentar? De repente, antes de o sinal abrir, ela devolve a bicicleta e vê o ônibus. Vai, vai que dá!
Outra cena acontece em seguida. Atrás do ônibus em que a moça entrou, um automóvel para, o motorista desce e aguarda por uma senhora elegante, de casaco de peles e salto alto, que vinha com passos rápidos do edifício, aquele do granito. Ele lhe entrega as chaves, ela toma o lugar dele. O ônibus arranca, o carro também. As duas mulheres se vão.
Não acontece mais nada que me chame atenção. Mas fico pensando. Me vi nas duas. Na menina que corre atrás dos sonhos, que estuda e fará escolhas. Na mulher que já escreveu seu caminho, mas ainda quer mais.
Fecho a janela, estou sorrindo.

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