segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Conheci uma pessoa que se importa, de Ângela Broilo

Esse fim de semana fiz um curso de Adobe Premiere junto a alguns professores da rede municipal que, por iniciativa própria (e do próprio bolso também) decidiram trazer a Caxias o doutorando Josias Pereira, diretor de TV e cinema. Diga-se, para explicar melhor: um grupo de amigos da mesma profissão reuniu-se, fez uma vaquinha e chamou o moço. Bacana é ter entrado mais gente que o esperado, e deu certo. Eu é que estava lá de furão. Enfim, o Josias é carioca. Hoje está residindo com a esposa em Pelotas, onde faz seu doutorado e é professor da Ufpel. Por que ele e não um cineasta de Caxias? É que o Josias tem algo mais. Sua produtora já produziu 97 vídeos e conta com prêmios nacionais e internacionais com a realização e pesquisa sobre vídeos feitos por alunos. Ele defende a tese de que a produção de vídeos contribui no processo de ensino. Está verificando, em seu doutorado, que a criança acredita em tudo que assiste na TV. Além disso, pretende provar que, ao ensinar a criança a mexer com todo processo de realização do video, além do benefício da interdisciplinareidade, no momento da edição e decupagem de cenas, a criança desmistifica a mídia TV e percebe que a televisão também MENTE. Um dos prêmios que ganhou em Portugal refere-se a um trabalho muito simples. As crianças entrevistaram os colegas mais velhos. Pergutaram a eles quem era o professor preferido. Depois, perguntaram quem era o professor que menos gostavam. No momento da edição, trocaram a pergunta. Ninguém percebeu a troca. Como o programa é simples de operar, basta preparar os professores para que depois ensinem os próprios alunos. O importante é que estes passem por todas as etapas do filme e que o professor ajude a simplicar o processo: diálogo com o grupo, pesquisa, roteiro, figurino, gravação/captação de cenas (pode ser com uma câmara ou até com fotografias e legendas), música e efeitos especiais. O importante é que a criança está usando os dois lados do cérebro nessa atividade. (Josias faz uma pesquisa séria sobre neurociência também.) Depois disso, será muito mais difícil enganar os pequenos para o consumismo fácil se o professor souber dar a deixa no momento certo. No Rio, durante a faculdade de comunicação, Josias fez um trabalho magnífico nas favelas, resgatando a autoestima de milhares de crianças em situação extremamente precárias. Como diz Josias, " acredito que um dos pontos positivos deste trabalho nas escolas é ver como os alunos vão com prazer (para a atividade) e não apenas por obrigação." Espero que, deste fim de semana, surja foco em alguma escola de Caxias! Guaíba já está fazendo sua parte. Hoje, cabe a nosso sistema resgatar alguma coisa.
Claro... temos o crack e outras drogas pesadas que antes, quando Josias trabalhava nas favelas, não estavam lá. Mas, acredito que aqui cabe a lenda do Apego, do Mestre Zen. Para quem não conhece, aí vai:
Um dia morreu o guardião de um mosteiro Zen. Para descobrir quem seria a nova sentinela, o mestre convocou os discípulos e disse:
- O primeiro que conseguir resolver o problema que eu vou apresentar assumirá o posto.
Então, em uma mesa que estava no centro da sala, colocou um vaso de porcelana muito raro, com uma rosa amarela de extraordinária beleza. Disse apenas:
- Aqui está o problema!
Todos ficaram olhando a cena: o vaso belíssimo, de valor inestimável, com a maravilhosa flor ao centro! O que representaria? O que fazer? Qual o enigma? De repente, um dos discípulos saca da espada, olha para o mestre, dirige-se para o centro da sala e... Zazzz! Com um só golpe destroi tudo.
- Você é o novo guardião. Não importa se o problema é algo maravilhoso. Ao ser um problema, precisa ser eliminado.

domingo, 30 de outubro de 2011

A CASA NOVA, de Maria Helena Balen

O jovem casal sentado num tronco de árvore olhava a casa construída com a ajuda dos vizinhos. As mãos calejadas se uniram e os dois rezaram agradecendo a realização do sonho. Ele ajudou a mulher grávida a levantar e juntos giraram a tramela da porta. Entraram. Um cheiro de madeira recém cortada invadiu suas narinas. Abriram os tampos da janela e olharam o caminho feito a foice e picão, não imaginando que moravam na futura Avenida Júlio de Castilhos.

Conto contido

Academia Caxiense de Letras - Cadeira 29

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Delícias de Epicuro - Ângela Broilo

  • Alguns dos desejos são naturais e necessários. Outros são naturais e não necessários. Outros nem naturais nem necessários, mas nascidos apenas de uma vã opinião.
  • Aqueles desejos que não trazem dor, se não são satisfeitos, não são necessários; o seu impulso pode ser facilmente posto de parte, quando é difícil obter a sua satisfação ou parecem trazer consigo algum prejuízo.
  • Somos fracos somente perante perante o mal, não perante o bem, pois os prazeres nos fortalecem; os padecimentos, pelo contrário, nos enfraquecem.
  • Quando dizemos que prazer é fim, não queremos referir-nos aos prazeres dos imoderados ou aos produzidos pela sensualidade, mas ao prazer de nos acharmos livres de sofrimentos do corpo e de perturbações da alma.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Lançamento Dia 08/10 - Sábado - 18h - na Sala de Autógrafos


É. Tem um errinho no convite. Quando marquei, me falaram que seria no Auditório. Depois, que seria na Sala de Autógrafos. Mas não tem importância. Uma é na frente da outra. E a sala de Autógrafos está tão linda!...

O autor do amor, loucura e morte: Arthur Schnitzler - Ângela Broilo

Faz tempo que eu estava atrás da Srta. Else. Neste livro, Arthur Schnitzler (1862-1931) , o escritor do amor, da loucura e da morte, revela-se em toda sua genialidade. Notícia ruim. Livro esgotado. Não vou me aprofundar aqui na Srta. Else, senão conto a história e vai perder a graça para quem for ler. O maravilhoso de Schnitzler é sua capacidade de entrar no íntimo do personagem, de tal forma absoluta, que consegue explicar o que se passa na mente de cada um.
Freud e Schnitzler
Em uma carta, destinada a Schnitzler, datada de 14/05/1922, Sigmund Freud faz algumas observações sobre a obra do escritor e confessa ter evitado, durante muito tempo, ser apresentado a ele, pois, ao ler seus textos, acreditava que tratava-se de seu “duplo”. Alguém que, como ele, era “explorador das profundezas” e que mostrava “as verdades do inconsciente”. Trecho de carta de Freud para Schnitzler “Sempre que me deixo absorver profundamente por suas belas criações, parece-me encontrar, sob a superfície poética, as mesmas suposições antecipadas, os interesses e conclusões que reconheço como meus próprios. Ficou-me a impressão de que o senhor sabe por intuição – realmente, a partir de uma fina auto-observação – tudo que tenho descoberto em outras pessoas por meio de laborioso trabalho.” (Freud, 1922)

Confissão:
Em se tratando de romance, existem diversas fórmulas para identificar a boa literatura. Todas elas conhecidas. Prefiro, no entanto, meu instinto. Quando leio algo bom, é como se fosse teletransportada para outro planeta. Fico horas e horas dentro do livro, com pena que tenha acabado. É por isso que quando gosto de um autor, procuro ler, na medida do possível, todas as suas obras. Mas, pela primeira vez,  está acontecendo algo estranho. No caso de Schnitzler, não estou com pressa para seus livros. Fico com receio da decepção: como um mesmo autor poderia superar a si mesmo depois de ter escrito Srta. Else?

Biografia
Algo que aprendi foi ler a obra do autor muito antes de conhecer a biografia do autor. Prefiro impedir que meus pré-conceitos influenciem no prazer na leitura.  Considero importante não confundir autor e obra. De qualquer forma, aqui vai um link: Schnitzler.