Eu adoro cachorros pela ligação de afeto
incondicional. Pessoas inteligentes pela conversa deliciosa. E tem gente que
gosto também, gente como a gente assim, não tão genial, mas que combina para
conviver como se tocasse a mesma música. Não é difícil explicar. Todos convivem
assim. São pessoas que vão aparecendo pela vida e você vai percebendo que juntos
compõem a mesma sinfonia. E assim a vida passa e passa e passam anos, você nem
percebe, já leu Proust, fez aula com o Donaldo e leu Ulisses, o cachorro está
respondendo suas perguntas mais profundas, entende o marido por telepatia, fica
triste quando uma amiga pede divórcio como se a sua vida é que estivesse
desmoronando. Quando percebe, está lendo a tradução do Bezerra do Dostoiévski
embevecida, ao mesmo tempo em que lê um romance infanto-juvenil num encanto
aristotélico.
Você influencia e é influenciada.
Conhece pessoas que cometem cada um dos sete pecados capitais. Se for escritor,
ator, poeta, fica babando para estudar cada gesto dos “personagens”. Não
demora, percebe que se encontra entre elas. Horrorizado decide quer virar
budista, umbandista, fazer Yôga, Yóga, retiro espiritual, jejum... Percebe que
gosta mesmo de ser você, fazendo terapia e essa é sua meditação semanal. Passa
a aceitar as próprias imperfeições. Lida com as crises da família, do cachorro,
da empregada, percebe, eventualmente, que a crise é sua e não do mundo inteiro.
Aprende que o melhor caminho é dar risada. Assim todos abraçam você num
aconchego delicioso porque rir é um presente melhor que jóia.
Aprende que é bom valorizar o agora.
Tudo que tem agora. Porque nada dura para sempre. O que tem hoje, se possível
de causar bem estar, aproveite.
Marido mal-humorado. Você se entristece
com a crise dele. Mas sabe que vai passar. Lembra que vai passar porque todo
fim de ano ele fica mal-humorado. Bom lembrar. Então você pensa naquele sorriso
aconchegante que te conquistou no comecinho da relação e torce para que possam
ter muitos finais de ano com mal-humor. Ri amarelo. Mas lembra que o interessante
é rir com todas as cores possíveis porque você não está de mal-humor e não é
uma mulher chatinha de filme gringo. Tanta coisa boa para fazer na vida. Uma
pessoa tem direito ao seu humor, afinal de contas. Liberdade é isso. Respeitar
a individualidade do mal-humor alheio. Amar na saúde e na doença, no bom-humor
e no mau-humor.
Só não preciso me sacrificar e ficar por
perto. Chamo a cachorra que está sempre feliz e vou visitar minha avó de quase noventa
anos, que está sempre naquele estado glorioso de bem estar. Ah! Isso que é
sabedoria de viver! Quero muito ficar velha, velha, velha e ser como minha avó!
Ela diz: eu olho no espelho e não sou eu que estou lá, é uma velhinha! Chego a
conclusão que os espelhos são traiçoeiros e muito mentirosos! Deveriam ser
processados por dano moral.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente: