terça-feira, 29 de novembro de 2011

Malvada, de Liane Rech

Há dias que Jaqueline vinha estranhando o comportamento de Salete. Suas atitudes não fechavam com o que sabia dela. Achou que estivesse passando por algum problema e que logo voltaria ao normal. Não comentou nada. Resolveu prestar atenção na amiga. Deu-se conta de que, até então, não percebera que Salete falava demais, queria sempre ter razão, fixava o olhar num ponto X por um tempo, sem piscar, fazia movimentos repetitivos. Outras vezes, o mais preocupante: dizia ouvir vozes que a acusavam com palavras de baixo calão.

A convite da família, Jaqueline aceitou, apesar de receosa, passar uma temporada na praia. Foi naquele veraneio, quando estavam sozinhas, preparando o jantar, que Salete surtou. Teve uma crise falante, seguida de longo silêncio com gestos faciais, revirando os olhos, a cabeça tipo pêndulo de relógio. Dizia ouvir vozes que a acusavam e faziam ameaças. Arranhou-se no rosto e nos braços. O ambiente ficara pesado.

Fim de veraneio. Toda a família voltou. Jaqueline hospedou-se num hotel em outra praia. Soube dias após que a amiga fora internada: esquizofrenia! Foi visitá-la no hospital, mas sentiu-se constrangida: algo lhe dizia que não era bem quista. Como se fosse culpada. Queria sair correndo de lá. Culminou, quando, dias depois, foi visitar a amiga na casa dela. O pai abriu a porta, mas a impediu de entrar: “Não quero que tu venhas aqui estragar a nossa festa.” Espantada, Jaqueline mal podia acreditar que a porta se fechara para ela. Começou a tremer e, da sua boca, um grito, que não parecia ser o dela: “Amiga, pode esperar: vou arranhar a tua cara, de novo!”

2 comentários:

  1. Esse conto está uma beleza, Liane!
    Nunca esperava por esse fim!
    Bjuussssssssss
    Ângela

    ResponderExcluir
  2. Liane, DEMAIS!
    Beijos...
    Sempre bom te ver.

    ResponderExcluir

Comente: