terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O Monstro, por Ângela Broilo


É o monstro. Ele me esmaga. Que sei eu se é novela ou romance. Estava mal acabado e engavetado a sete chaves, embaixo das revistas de artesanato. Não queria mais vê-lo. Arrastava minha nova narrativa, o plano pronto, vários capítulos bons. E o monstro eram cócegas malditas apenas marcando presença, avisando estou aqui.  Abominável o que fiz com ele no final. Quis transformá-lo no que não era. Ao longo do tempo em que permanecemos juntos, ele me esmagava, me envergonhou, me assustou. Pela primeira vez, eu escrevia sobre um personagem que não era eu e precisava, como um ator, buscar subsídios de maldade no fundo de mim. O início sim, surgiu em um dia de muita raiva. Então por que já estava ali, fiz um um plano fraquinho. O objetivo era apresentar dois romances para passar numa oficina muito concorrida. Sabia que era mal lapidado, meio trash, de qualquer forma fui em frente, amparada por outros dois livros de boa qualidade. Quanto ao monstro, um persogenagem sem mestria alguma. De forma que não sei como, ele passou a viver dentro de mim, o maldito. Hoje, com tempo para pensar e escrevendo o novo romance, ele aparece e me apavora em momentos sãos. Conclusão: preciso refazê-lo, terminá-lo, livrar-me dele. Fazê-lo ser quem é. Com todas as minhas forças. Senão continuará a me assombrar, a sabotar todos os outros romances que tento escrever. Porque ele é o pior homem do mundo e hoje toma conta dos meus sonhos, da minha vida. Ainda por cima está inscrito no ISBN. As formalidades causam-me mal estar. Ele sabe disso. É um personagem maldito. Pensei em visitar o hospitar psiquiátrico forense outra vez. Mas com que objetivo? Fugir? Preciso dar fim ao que comecei. A paz virá depois que ele tiver seu final. Um final verdadeiro. Posso fazer pesquisa sem sair de casa. O maior problema é também o final que o envergonha, e que coloquei lá para tentar livrar-me daquela companhia horrenda que viveu comigo por apenas dois meses e quase esmagou minha sanidade.
Agora é para valer. Não quero mais você aqui. Para isso, preciso aceitar que criei esse personagem e dar-lhe um fim digno dele. Respeitoso. Ao menos isso, ele merece. Eu mereço também. Vamos trabalhar juntos, talvez enlouquecer juntos, pelo tempo que for necessário. Depois, não quero vê-lo nunca mais.  

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