terça-feira, 30 de agosto de 2011

Reprodução de Artigo Mais que Interessante

Gostei tanto do artigo que vou repetir na íntegra, com a devida autoria (abaixo) e link, é claro! Se os autores não gostarem, avisem que logo retiro. Sei que seria mais ético pedir antes a autorização, mas isso demora tanto... Enfim. Aí vai.

Filosofia Dicas para quem busca seu bem-estar no movimento da vida

"Porque se chamava moço
Também se chamava estrada
Viagem de ventania...
Porque se chamava homem
Também se chamava sonhos
E sonhos não envelhecem...
"


(Milton Nascimento e Lo Borges, Clube da Esquina 2)
Encontrando amigos, o leitor percebeu-se distante deles. Diziam-se velhos, envelhecendo. Pareceu-lhe que eles haviam pulado de um patamar a outro na existência, mas ele não os acompanhava, nem desejava acompanhar. Não conhecia a sensação de envelhecer, não se sentia assim. Sentia-se e sente-se jovem como sempre, e acredita, como seus velhos amigos acreditavam, que “sonhos não envelhecem”, e que esSes são o alimento da juventude, independentemente da idade. O que fez com que seus amigos desistissem do sonho e envelhecessem?

O que significa envelhecer? Quando se sabe que envelheceu? Pergunta o leitor.

Difícil responder-lhe. Tendo por base a proposta da filosofia clínica, dependeria, em diversos aspectos, das formas como a pessoa pensa, sente e vive tais questões. Alguém poderia responder que envelhecer é um processo constante de degeneração que se inicia com a vida e termina com a morte. Poderia, ainda, descrever sinais evidenciados no corpo, alterações biológicas inevitáveis. Outro alguém poderia afirmar que envelhecer é atingir maturidade, e com isso ser mais seletivo em suas opções, mais sereno em suas posições e mais equilibrado ao agir. Outros, ainda, poderiam afirmar que envelhecer é ter limitações, é ser superado, é ficar ultrapassado. Talvez preparar-se para a morte.

Afirma Simone de Beauvoir em A Força da Idade:

“Tinha outra preocupação: envelhecia. Nem minha saúde nem meu rosto se ressentiam; mas de vez em quando eu me queixava de que tudo perdia o viço em torno de mim; não sinto mais nada, gemia. Era ainda incapaz de ‘transes’ e no entanto tinha uma impressão de perda irreparável. (...) Em derredor, entretanto, a realidade pululava, mas cometi o erro de não procurar penetrá-la; encarava-a dentro de esquema e mitos que se tinham mais ou menos gasto; o pitoresco, por exemplo. Parecia que as coisas se repetiam porque eu mesma me repetia” (p.
209).

Você, independentemente da idade, já sentiu algo parecido? Já viveu a sensação de que tudo perdeu o “viço”? Já se viu preso a armadilhas, esquemas conceituais que lhe impulsionam a repetir tudo da mesma maneira? Os mesmos eventos, as mesmas sequências, os mesmos erros, os mesmos choros, os mesmos risos, os mesmos... tudo?

“Viver é envelhecer, nada mais”, diz, mais adiante, Simone de Beauvoir. E isso não implica em perder sonhos, em perder o “viço”, em se tornar repetitivo. Do ponto de vista biológico, envelhecemos desde que nascemos, e não paramos de envelhecer. O argumento derradeiro que aponta o envelhecimento como limitação, de um lado; e de outro, como sabedoria, é questionado por Steven Rose no livro O cérebro no século XXI.

Rose aponta, como um dos vários mitos da biologia, o fato de haver perda neuronal com a idade, e indica pesquisas recentes que demonstram que o cérebro possui uma pequena reserva de células tronco que possibilitam a regeneração neuronal. Segundo ele, o cérebro encolhe com a idade, não porque perca neurônios, mas porque as células encolhem ao perder água e os ventrículos e sulcos aumentam. Ele também afirma que os processos hormonais são muito mais responsáveis pela extensão da morte celular do que a idade. Obviamente, há perda neuronal, há mudanças bioquímicas no envelhecimento. Mas isso não implica em “mudar para pior”.

“O que fica claro é por que esses fenômenos de envelhecimento biológico precisam considerar a mudança do contexto social no qual está embutido o ciclo vital de cada pessoa – e, portanto, a vida privada da mente” (ROSE, 2006: 198). Por isso, relembrar a historicidade pode ser um excelente caminho para lidar com tais fenômenos.

Afirmou Andre Gide: “Quando já não me indignar, terei começado a envelhecer”. Outros afirmam que nos indignamos porque e quando envelhecemos. O ator John Barrymore afirmou que “O homem começa a envelhecer quando as lamentações começam a tomar o lugar dos sonhos”. E não há jovens lamentadores? O que significa, para você, envelhecer? Relaciona-se à idade? Ao desenvolvimento biológico? Ou a formas de vida? Sonhos que “não envelhecem”? Lamentos sem fim?
Seja qual for sua resposta, você deseja ou não envelhecer? No livro citado, Steven Rose indica atividades necessárias para a manutenção do sistema neuronal ativo, atividades que podem ser desenvolvidas de muitas e diferentes maneiras, de acordo com as necessidades e disposições de cada um.

Após esta brevíssima exposição, pergunto ao leitor: é possível rejuvenescer com o passar do tempo? Isso indicaria algo sobre o tempo? Ou sobre suas formas de vida? Você deseja envelhecer ou manter-se jovem? O que precisaria fazer, em cada caso?

Pergunto ainda: o que fez com que seus amigos mudassem de patamar existencial e ele optasse pela não mobilidade? Seria imobilidade ou simplesmente a aceitação de sua impossibilidade em conviver com essas ideias. Para a filosofia clínica cabe estudar as possibilidades. A questão é: você deseja as opções que se apresentam no caminho? Como será caso as aceite? E se não aceitar?

Talvez estejamos tão ocupados com as demandas contemporâneas que tenhamos esquecido de envelhecer, ou talvez tenhamos optado por não envelhecer. Talvez já tenhamos envelhecido e não percebamos. O que você pensa sobre o assunto? Você é jovem ou velho? Qual o critério utilizado para responder?

Referências Bibliográficas:
AIUB, Monica. Para entender Filosofia Clínica: o apaixonante exercício do filosofar. Rio de Janeiro: WAK, 2008.
BEAUVOIR, Simone. A força da idade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
ROSE, Steven. O cérebro no século XXI: como entender, manipular e desenvolver a mente. Rio de Janeiro: Globo, 2006.
Link

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